quarta-feira, julho 24, 2013

aqui

espero-te aqui - onde a esperança acaba como o último cigarro do condenado. os teus lábios ensinaram-me a felicidade instantânea do adeus. somos isto - um abraço turquesa escondido de todos, à espera que a tristeza se possa esquecer de chegar. os teus ombros descobertos descansam nos meus lábios das paixões adúlteras que nos esperam ao virar da vida, na substituição possível deste nosso calor condenado ao vapor e ao esquecimento. aqui, depois do fim, há um halo a melancolia impossível de evitar - uma lembrança pálida do teu peito desenhado de felicidade, a respirar descoberto nos meus dedos abandonados. espero-te aqui, no fundo da esperança, perfumada pela tristeza que me deixaste condensada na cama, e que me obriga inevitavelmente a sorrir.

Tenho medo

quando me lês as ideias
as sérias e as de brincar
estas coisas todas
que tenho sempre de te contar

o jantar de ontem
e o novo emprego
a namorada nova
(tenho tanto medo)

que tudo isto acabe
que o que nos separe
seja o próximo capítulo
deste livro sem título:

"Gosto de ti na solidão."

sábado, junho 29, 2013

já não te sei esquecer - olá, bem vinda de volta a este carrossel fúria tarde tempestade verão vestido de inverno da cabeça aos pés relâmpagos encharcados de saudade - estamos de volta ao ponto perpendicular à esperança, ao carrossel em que ensaiamos suicídios em forma de dança, ao carinho desenhado com gestos siameses, quase sem medo da felicidade.
e  falhar. corredores em que abraços nos encostam ao esquecimento em que os nossos braços repousam agora, devolvidos ao silêncio, vazios,  perdidos nesta fuga precipitada, nesta lonjura de não nos conseguirmos amar.

fomos feito assim, desamparados um do outro, plantados em continentes separados, forjados em lágrimas estrangeiras, nascidos em poemas ieroglíficos impossíveis de decifrar, entregues a um carinho sem fronteiras que ameaça a nossa sombra como a promessa da desilusão iminente.

o planeta que nos separa é quase visível deste canto do mundo que me abandona; é pequeno, dado a sonhos e esperanças, erguido em forma de muralha ao longo deste país-cadeia-desilusão que nos acolhe
na morte como à nascença,
na vida como na saudade.
quando perceberes
ou não te souber explicar
as facas e as paredes que nos atravessam
os nossos pés abençoados pelo mar
os teus cabelos em ondas de fazer de conta
baptizados pelo luar.

Não sei mais o lugar
das felicidades que aconteceram
sei alguns dos teus dedos
uns enormes, outros pequenos
dedicados a minutos
de me fazerem feliz.

é verão.
estamos tão quase a regressar.

terça-feira, junho 25, 2013

Morte de uma pintora viajante

Ainda tem espalhados na mesa
um arco-íris de lápis de cor
com que pintava outra viagem
com muito carinho e candor.

Tinha um lenço no cabelo
olhos abertos até ao coração
e munida de tamanho sorriso
que diabo faz ela no chão?

"O sorriso parece de mármore"
comenta um senhor junto à porta.
Outros perguntam quantas vezes terão a sorte
de ver, numa viagem de comboio,
outra mulher assim tão morta.

Descobriu-se posteriormente
que sofria de leucemia
e apanhava  o comboio diariamente
por gostar da companhia.

E assim, em andamento pintava,
entre desconhecidos e carris
(porque foi assim que sempre quis)
aquela vida que lhe acabava.

haiku on the run #2

do cima da montanha a verdade fulminante
em cimento:
a dor, imutável como a cidade.

haiku on the run #1

o comboio morre-nos ao pôr do sol
mais
tesões acéfalos abraçados em solidão

devoção paralela

Em nome do pai
e se o amor não sai
do filho
construímos um ninho;
e do Espírito Santo
gosto de ti tanto,
como era no princípio
e como sabes o que sinto
agora e para sempre
esperamos juntos que o futuro entre.
Amém.
Amém.
e quando ela mudar de ideias
oferece-lhe todas as luas
que carregas aos ombros, cheias
de saudades que se calhar são suas
perdidas em algibeiras
como verdades seminuas;
conta-lhe sonhos, meias
verdades, casas e ruas
de mulheres, todas solteiras
imaginariamente nuas
deliberadamente tuas.

open letter to the end of love

I shall write us no more. These words are not yours, but for you. There is no love. The tears we shed washed away by the tide that  washes our memories away. Because there is no other way. You must keep storming through everyone's lives like a rainbow butterfly a tornado smile causing nuclear holocausts in unsuspecting hearts reduced to the atomic ashes of your ever blossoming lips. This is where I hide my love away: in the warmest of hugs, in the softest of kisses deposited on your forgiving face while I bid my last goodbye. You won't suspect my love's departure for for you it shall be dead. This is the only way. My confusion, my bleeding heart must dive deep never to be seen again. So we can survive. So we can be any kind of us, any but the one we so fiercely chose to hide. chose to crave.
Sing this love a brief eulogy.
Hug it goodbye, and wait quietly for our eternal return.

sexta-feira, junho 07, 2013

Soneto Imperfeito #1

Se me vires chegar
com um tupperware cheio
de saudades
não esperes mais nada .

Trago-te os restos que a solidão deixou:
uma oferta de paz secreta
um beijo escondido na tua  face
deserta.

As saudades que cabem
nas horas que não sabem
passar sem nós.

A melancolia sorri
outro dia sem ti
outro inverno a sós.

sábado, junho 01, 2013

Aniversário de um dia qualquer

Em pé, na ponta do bar, era fácil perceber-lhe os invernos acumulados na barba, a solidão escondida da indiferença, num par de olhos desaprendidos de chorar.
Abandonado às palavras que me disse sem se entender

uma carteira tão velha que nem merece ter notas dentro(?)

Fingir esquecê-lo foi tão fácil como o mojito seguinte. Mas espero que tenha encontrado no fundo da cerveja um vislumbre de tudo aquilo em que de certeza já não se dá ao luxo de acreditar.

Ao atravessar a ponte percebo-me contagiado. Merda. Os invernos devem-lhe ter saltado da barba para o meu coração. De certeza. Foda-se. As nuvens também devem ter percebido, a chorar esta chuvinha de merda como se fossem lágrimas. Ao menos que seja isso: que no fim da cerveja mais barata encontre um bocadinho de sol que lhe aqueça a solidão; e, se lhe sobrar um pedaço, que o deixe à minha porta, em jeito de prenda. Em jeito de lanterna. Em jeito de perdão.





sábado, maio 25, 2013

Há poemas que não se escrevem

mas que se passeiam pelo dia
vestidos de pânico e harmonia;
de sorriso em riste
(por vezes triste):
esmeralda-sedução,
futuro, desilusão.

Há poemas de todas as formas
versos ou prosas,
cravos ou rosas,
livros inteiros assim;


cantos abertos de liberdade
fados pranto de saudade
canções nossas sem fim.


Poemas curtos ou épicos
uns grandes, talvez inéditos
poemas de todas as formas e cores.

Poemas de guerra,
versos de morte
escritos sem cuidado,
talvez à sorte
linhas que nos deixam sonhar...

de todas as formas e feitios
uns enormes, outros vazios,
infinitos para nos fazer chorar.

E, entre tantos e impossíveis
escritos a sangue e suor
resta-nos a tristeza de saber
que entre todos os poemas e livros
poetas mortos e livres
restou a este coração nu
um poema assim
(imperfeito)
como tu.

Morremos-nos.

Morremos-nos.

Este ódio
quase carinhoso
sulfúrico
a apagar as pegadas
que escondemos no lixo
que esta cidade devora.

Que morras agora
e dês lugar ao arrependimento
como um mártir
condenado à acidez meteórica
da tua memória.

O próximo copo devolve-me
à raiva seca de tentar em vão
não gostar de ti.

Por agora chega-me esperar-te
na certeza dum perdão amaldiçoado
que pode muito bem desacontecer.

ao longe, de perto

estamos longe.
ao longe é bem mais fácil fingir
a indiferença;

a minha vida quase vazia
da tua
voz em forma de gargalhada
como um punhal apontado à felicidade.

os teus ombros de neve nos meus
sonhos apagados de nós.

esticamos a alegria como um elástico
em sinais de fumo e desespero.

não conseguimos o amor,
mas esta saudade que vestimos
fica-nos tão bem!
como uma primavera
no rosto ou uma ideia nuvem,
branca,
a nevar esperanças nos nossos meses,
disparados como cometas,
à velocidade da luz do esquecimento.

não temos lágrimas;
temos sorrisos
à prova de balas
à prova de nós.

sexta-feira, maio 24, 2013

last dance

dançamos com cuidado à volta do beijo que espera sorrindo no fundo de nós, pronto para nos acabar. construímos cada momento na esperança que dure para sempre, na certeza de o não podermos repetir. ensaiamos abraços, aleatórios (tantos!), imaginados ao mais insignificante dos pormenores.
na nossa memória chovem todas as ilusões com que pintamos esta mentira tão nossa.
os teus pés descalços a correr na lama envenenada dos meus sonhos os meus dedos amaldiçoados nos teus braços a sufocar qualquer hipótese de felicidade.

domingo, abril 28, 2013

a véspera da saudade

ficamos assim: afogados numa conversa; esquecidos de acabar. deixamos que o desejo te suspire nos ombros quase nus. o teu rosto, despido de qualquer esperança, escapa do meu para uma ideia distante que não pode ser de nós. (estamos quietos). o sol recusa-se a incendiar o tempo que tentamos em vão acabar. preparamos a partida da inocência - aquela que fingimos como profissionais. há cidades à nossa espera, onde o mijo e o vómito poderão finalmente dar um contorno concreto ao desespero, à melancolia de não podermos ser mais do que isto: dois pares de olhos abraçados, a chorar por dentro o beijo apocalíptico que as nossas mãos se esqueceram de evitar.

domingo, abril 14, 2013


de manhã, devolves-me à solidão. a tua pele branca, quase despida, espera ausente a partida do meu toque,  tão anunciada como outra verdade qualquer. dormimos, lado a lado, sonos separados. estamos juntos, mas se fechar os olhos com força ainda vejo a distância inevitável que nos separa. acordas-me, e atiras-me um protesto disfarçado de sorriso, e ambos sabemos que a minha presença nestas manhãs é apenas mais um pequeno suicídio da esperança que tentamos em vão expulsar do meio de nós. tento partir, mas acabo perdido de novo nos teus olhos que fingem não saber o caminho secreto para o meu coração. parto, porque tu me expulsas, ou porque me ignoras, ou porque ambos sabemos que a partida é a única saída possível de mais uma noite que nunca devia ter acontecido.  devolvo-me à solidão dos andaimes que saúdam a  primavera com sorrisos feitos de metal. devolvo-me ao mundo, na esperança que aconteçamos uma vez mais ou nunca mais.

terça-feira, abril 09, 2013

Dias de morrer

Há dias em que me atacas.

Atravessas as fotografias de memória em punho e esquartejas a solidão.

Há dias em que me atacas.

Surges do nada, a sorrir melancolias, como uma criança que diz adeus desde o fim do amor.

Há dias em que me persegues.

Dias sem noite que se esticam pelo teu corpo como a saudade, em chamas.

Dias que não têm nome, ou horas, ou jardins.

Em que as nossas ruas se cruzam em cidades diferentes, e me contas o segredo do teu nome.

Cidades diferentes com cemitérios iguais.

Há dias em que me morres.

Dias negros em que te sei ausente como a esperança.

Dias em que me lembro de te esquecer.

Dias em que me recordas, dias secretos em que me tentas matar.

quinta-feira, abril 04, 2013

Ash Thursday

and in the middle of that conversation it happens again. you look at me, bug like eyes staring straight to my into soul, obliterating everything that is sacred and good in me. and it feels so good. like morning, or sin. the sudden annunciation of what we all should know: that we all come to this world to hurt each other - Devil's favourite children playing warfare in each other's heart. there is nothing for us but this never ending elliptical dance that drives us further and further across the abyss that lies around our damned embrace. 

Let us part, once more and forever.
Let the memory what never happened haunt as eternally as the promise of what could have been but never was - the violent mistakes we afford to avoid in order to ignore that our blissful dive to the comforts of hell has long ago began.

quarta-feira, março 20, 2013

segue-me

segue-me até às sombras no fundo da cidade onde bêbados mijam à chuva e celebram as núpcias sagradas do rio com os esgotos que espalham pelo inverno pesticida os restos ignóbeis de todos nós segue-me porque nestas ruas nem tudo está perdido ainda sobrevive no ar húmido da noite uma promessa secreta de homicídio uma janela dourada aberta para a salvação deixa-os e vem comigo para onda a humanidade acaba e não há senão sangue vomitado e loucos canibais à nossa espera de facas em riste prontos a oferecer  às ruas em forma de ritual as vísceras podres da nossa melancolia segue-me para longe de tudo o que é bom onde o sexo é indiferente a pessoas e lugares onde cadáveres seminus violam estátuas sagradas sob o olhar aprovador de todos os santos que tiveram o privilégio de cair segue-me até aqui onde a esperança não tem nome e por isso é infinita aqui onde todas as vidas mutiladas se congregam em adoração ao suicídio e a morte se esquece de se anunciar aqui nas sombras da minha casa aqui onde finalmente podes perceber que nada há em mim para além da solidão prometida e que comigo tudo o que te resta é um caixote cheio de esperanças partidas sonhos amputados promessas estéreis e momentos assombrados dos quais podes nunca mais recuperar.

terça-feira, março 19, 2013

de manhã, quando a tristeza acorda

a manhã acorda-nos lado a lado. num sobressalto antecipado a fuga dos teus braços dos meus é anunciada devagar, como um vestido preguiçoso que usamos para disfarçar a vontade de nós. a aurora instala-se. a certeza acorda-nos como um vulcão em chamas e separa os nossos lábios para longe da promessa do beijo infinito que escolhemos em silêncio evitar. os teus lábios fechados são a primavera que beija a manhã e, ao desenhar nos teus cabelos adormecidos o futuro, consigo ver ao longe o fim que a solidão não tem. 

resta-nos esperar. resta-nos fingir que acreditar num futuro ou num beijo não é a mais suicida de todas as ilusões.

restam-me os teus olhos abertos até ao epicentro da minha vontade inabalável de ti; os teus cabelos desenhados nas minhas mãos como o mapa prometido; as tuas mãos tão perto das minhas como do fim da solidão.

deixo-te longe. nesses braços que não são meus, programados convenientemente para a luz, condenados a fazer-te feliz. vejo-te com ele, daqui, onde as sombras se abraçam com carinho, a acreditar em futuros mesmo prontos para chegar.

respiro e, por segundos, disfarço de novo a vontade sanguinária que me viola cada vez que me lembro de ti:

- um beijo homicida talvez;
- um acto maior de egoísmo;
- um inferno garantido, em que a tua memória, plantada como uma semente contra a tristeza, evite eternamente o fim da nossa fogueira, imaginariamente nupcial.

sexta-feira, março 08, 2013

Morning at the MoMA, sketch #3

And still after centuries of death and night and mistress muses still we look endlessly for the perfect piece the unattainable one the erection vomit inducing master piece that shall make us masturbate and bleed from our eyes the mutilated harmony of the perfect dismembered woman body with her flawless coma inducing breasts and their heavenly tasting nipples staring at you within the frame of blood showering from the canvas where once her arms were before the mutilated reality came at you and left you no chance to cope no mechanism to absorb the unavoidable truth that you mayest make love to this painting and you shall die in it in eternal gut destroying love making puke inducing orgasm spraying bliss.

Morning at the MoMA, sketch #2

It is only when you deprive your eyes from colour and sink yourself in pure blackened dark that you will understand the meaning the secret melody the eye watering power of coloured light. Free yourself from colour and it shall be released upon your dark sensing immutable sense of seeing in an overwhelming announcement of life dark red and yellow as a blue green ever muting ever changing colour of life, which is none - and hence is all.

Morning at the MoMA, sketch #1

Darkness is not the absence of colour the presence of all colour that's what makes colour disappear it is but when you let the whole spectrum of light explode into your eyes then you let light become night at its darkest bright.

domingo, fevereiro 03, 2013

olhou-me nos olhos com as janelas abertas e disse

já não olhas mais para mim passas em mim e não reparas não me sentes caminhas em mim mas as ruas são invisíveis para ti e eu tento tudo a sério que tento tenho palhaços a pedir esmola espalhados por todas as esquinas miguel angêlos bebés descalços na neve desenham-me nas paredes os graffitis mais obscenos distribui com cuidado pelo teu caminho as mulheres mais bonitas os decotes mais ousados os olhares mais distantes abri catedrais de madrugada ofereci aos músicos de rua orgãos de tubos e stratocasters por estrear organizei feiras dedicadas aos teus poetas favoritos antecipei o natal para a primavera aboli os cães declarei a solidão inconstitucional e então revoltaste-te contra o sistema inventaste com o rosto a bandeira contra as minhas regras declaraste-te anarca pela melancolia deixaste-me sem escolha senão prender-te senão encerrar-te nos meus limites e nada mudou continuas preso nas minhas praças mas resistes e não me olhas e quando me olhas é como se não me visses e visses outra qualquer outra diferente outra melhor outra com bairros de tristeza e avenidas de desilusão outra que se prostitui sem pingo de vergonha aos impulsos pornográficos homicidas e tristes da tua absoluta e incondicional falta de fé

sexta-feira, fevereiro 01, 2013

as saudades são assim

as saudades são assim: não pedem morada ou número de telefone, não usam avisos de recepção. chegam e atravessam-nos sem explicar porquê, sem nos deixar perceber os países inteiros que nos separam, repletos de vidas inteiras, erguidas como muros entre nós.

às vezes esqueço-te. desculpa. mas a sério. às vezes desapareces-me da memória sem deixares sequer um bilhete com uma data de regresso. e eu faço um esforço enorme para não levar a mal essas tuas partidas desanunciadas.

há anos que não te toco. mas hoje a minha mão sabe-te de cor, tanto quanto naqueles anos em que éramos audazes demais para acreditar no fim.

temo adormecer e encontrar as nossas memórias dispostas em diapositivos baralhados, numa sequência aleatória que pode perfeitamente durar para sempre.

perdoa-me o esquecimento.

perdoa-me, sobretudo, as saudades que continuo sem saber evitar.

fico aqui à tua espera. aqui neste passado remoto, tão difícil de te encontrar. não te demores. eu sei que de uma maneira ou de outra, duraremos para sempre. mas esta rosa não.

sábado, janeiro 12, 2013

queen arriving

a cidade está quase pronta para ti.
as praças foram limpas de todos os pecados
das janelas pendem grinaldas e provocações apontadas ao teu sorriso.
os sem abrigo vestem casacos cosidos de flores e ensaiam pelas ruas danças acrobatico-felizes.

apagamos o lixo
desligamos a chuva
e o sol desliza pelas nuvens irresistivelmente em busca do teu olhar.

há músicos nas ruas a ensaiar as tuas músicas
mesmo aquelas que não te lembras de gostar.

temos bailarinas, bolos, cavalos e procissões
ansiosos para começar

e, de repente, percebo:

tudo isto não interessa;
estás para sempre condenada a merecer muito mais...

A cidade esconde-se.

espero-te, a medo,
no fundo da rua
armado apenas com um sorriso
na esperança que um abraço seja suficiente para te trazer de novo a casa.

sexta-feira, janeiro 11, 2013

uma noite só

Lembraste, quando, no cimo da colina, me deste a conhecer a tristeza toda do mundo? 
Trazia-la escondida entre os lábios semicerrados, rendidos aos movimentos hesitantes dos meus.

Era uma noite assim,  a ameaçar ser fria,  e os graffitis tentavam em vão distrair  os nossos olhares, fixos, um no outro, até ao fundo do mar. 

Ao partir, beijei-te o rosto adormecido e quase te agradeci por me teres ensinado que a felicidade afinal pode durar uma noite só.