domingo, abril 28, 2013

a véspera da saudade

ficamos assim: afogados numa conversa; esquecidos de acabar. deixamos que o desejo te suspire nos ombros quase nus. o teu rosto, despido de qualquer esperança, escapa do meu para uma ideia distante que não pode ser de nós. (estamos quietos). o sol recusa-se a incendiar o tempo que tentamos em vão acabar. preparamos a partida da inocência - aquela que fingimos como profissionais. há cidades à nossa espera, onde o mijo e o vómito poderão finalmente dar um contorno concreto ao desespero, à melancolia de não podermos ser mais do que isto: dois pares de olhos abraçados, a chorar por dentro o beijo apocalíptico que as nossas mãos se esqueceram de evitar.

domingo, abril 14, 2013


de manhã, devolves-me à solidão. a tua pele branca, quase despida, espera ausente a partida do meu toque,  tão anunciada como outra verdade qualquer. dormimos, lado a lado, sonos separados. estamos juntos, mas se fechar os olhos com força ainda vejo a distância inevitável que nos separa. acordas-me, e atiras-me um protesto disfarçado de sorriso, e ambos sabemos que a minha presença nestas manhãs é apenas mais um pequeno suicídio da esperança que tentamos em vão expulsar do meio de nós. tento partir, mas acabo perdido de novo nos teus olhos que fingem não saber o caminho secreto para o meu coração. parto, porque tu me expulsas, ou porque me ignoras, ou porque ambos sabemos que a partida é a única saída possível de mais uma noite que nunca devia ter acontecido.  devolvo-me à solidão dos andaimes que saúdam a  primavera com sorrisos feitos de metal. devolvo-me ao mundo, na esperança que aconteçamos uma vez mais ou nunca mais.

terça-feira, abril 09, 2013

Dias de morrer

Há dias em que me atacas.

Atravessas as fotografias de memória em punho e esquartejas a solidão.

Há dias em que me atacas.

Surges do nada, a sorrir melancolias, como uma criança que diz adeus desde o fim do amor.

Há dias em que me persegues.

Dias sem noite que se esticam pelo teu corpo como a saudade, em chamas.

Dias que não têm nome, ou horas, ou jardins.

Em que as nossas ruas se cruzam em cidades diferentes, e me contas o segredo do teu nome.

Cidades diferentes com cemitérios iguais.

Há dias em que me morres.

Dias negros em que te sei ausente como a esperança.

Dias em que me lembro de te esquecer.

Dias em que me recordas, dias secretos em que me tentas matar.

quinta-feira, abril 04, 2013

Ash Thursday

and in the middle of that conversation it happens again. you look at me, bug like eyes staring straight to my into soul, obliterating everything that is sacred and good in me. and it feels so good. like morning, or sin. the sudden annunciation of what we all should know: that we all come to this world to hurt each other - Devil's favourite children playing warfare in each other's heart. there is nothing for us but this never ending elliptical dance that drives us further and further across the abyss that lies around our damned embrace. 

Let us part, once more and forever.
Let the memory what never happened haunt as eternally as the promise of what could have been but never was - the violent mistakes we afford to avoid in order to ignore that our blissful dive to the comforts of hell has long ago began.