sábado, maio 25, 2013

Há poemas que não se escrevem

mas que se passeiam pelo dia
vestidos de pânico e harmonia;
de sorriso em riste
(por vezes triste):
esmeralda-sedução,
futuro, desilusão.

Há poemas de todas as formas
versos ou prosas,
cravos ou rosas,
livros inteiros assim;


cantos abertos de liberdade
fados pranto de saudade
canções nossas sem fim.


Poemas curtos ou épicos
uns grandes, talvez inéditos
poemas de todas as formas e cores.

Poemas de guerra,
versos de morte
escritos sem cuidado,
talvez à sorte
linhas que nos deixam sonhar...

de todas as formas e feitios
uns enormes, outros vazios,
infinitos para nos fazer chorar.

E, entre tantos e impossíveis
escritos a sangue e suor
resta-nos a tristeza de saber
que entre todos os poemas e livros
poetas mortos e livres
restou a este coração nu
um poema assim
(imperfeito)
como tu.

Morremos-nos.

Morremos-nos.

Este ódio
quase carinhoso
sulfúrico
a apagar as pegadas
que escondemos no lixo
que esta cidade devora.

Que morras agora
e dês lugar ao arrependimento
como um mártir
condenado à acidez meteórica
da tua memória.

O próximo copo devolve-me
à raiva seca de tentar em vão
não gostar de ti.

Por agora chega-me esperar-te
na certeza dum perdão amaldiçoado
que pode muito bem desacontecer.

ao longe, de perto

estamos longe.
ao longe é bem mais fácil fingir
a indiferença;

a minha vida quase vazia
da tua
voz em forma de gargalhada
como um punhal apontado à felicidade.

os teus ombros de neve nos meus
sonhos apagados de nós.

esticamos a alegria como um elástico
em sinais de fumo e desespero.

não conseguimos o amor,
mas esta saudade que vestimos
fica-nos tão bem!
como uma primavera
no rosto ou uma ideia nuvem,
branca,
a nevar esperanças nos nossos meses,
disparados como cometas,
à velocidade da luz do esquecimento.

não temos lágrimas;
temos sorrisos
à prova de balas
à prova de nós.

sexta-feira, maio 24, 2013

last dance

dançamos com cuidado à volta do beijo que espera sorrindo no fundo de nós, pronto para nos acabar. construímos cada momento na esperança que dure para sempre, na certeza de o não podermos repetir. ensaiamos abraços, aleatórios (tantos!), imaginados ao mais insignificante dos pormenores.
na nossa memória chovem todas as ilusões com que pintamos esta mentira tão nossa.
os teus pés descalços a correr na lama envenenada dos meus sonhos os meus dedos amaldiçoados nos teus braços a sufocar qualquer hipótese de felicidade.