domingo, dezembro 27, 2009

Para uma menina, com uma flor

"E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê."

Vinícius de Moraes, Para uma menina com uma flor

terça-feira, novembro 24, 2009

London Diaries, Chapter III

Depois da visita, já exausto, ao Tate Modern, percebi que a fascinação pelo néon não é só minha. Obrigado Art Pop por me fazeres sentir um bocadinho menos sozinho. Londres turística tem destas maravilhas antagónicas. A arte clássica da pintura da National Art Gallery à arte contemporânea e controversa, complicada de digerir do Tate. Difícil mesmo. Mas já deixei de fazer de conta que tem tudo muito piada também. Para mim alguns têm, outros não. Sejam pinturas de cristos e santos ou latas de conservas às cores, alguns mesmerizam-me, outras são uma perda de tempo.
Lamento se uma parte do British Museum me parece uma reprodução gigante de um catálogo da Vista Alegre. Não é falta de respeito à herança histórica. Só não me despertam particular curiosidade ou entusiasmo. Estes museus são, acima de tudo, museus escola. Entramos para saber, não para nos deslumbrarmos. A National Portrait Gallery tem um efeito semelhante. Mesmo que ver centenas de rostos retratados em pouco mais de uma hora se possa tornar, no mínimo, enjoativo, as notas explicativas de génios como T. S. Elliot ou Keats tornam a experiência não só suportável, como até, ocasionalmente, agradável.
Há ainda os monumentos. Uma abadia de Westminster majestosa, a provar que a sua importância histórica não é fruto do acaso ou de caprichos reais, mas de uma imponência deslumbrante. Por outro lado, para compensar esse mesmo deslumbramento, existe o Buckingham Palace, candidato destacado na minha eleição da "desilusão da semana". Ou a falta de encanto do Marble Arch, que explica o facto de nunca antes ter ouvido falar dele.
Depois, há Londres das ruas e das culturas urbanas. Do oriente e das índias. Dos pubs britânicos a sério. De dúzias de meninas cambaleantes, cheia de elegância enquanto escorregam nas suas mini saias coloridas. Os punks e os emos despreocupados, tão diferentes como outra pessoa normal qualquer. E todos os outros.
Londres de Portobello Road e Camden Market, a fervilhar de diferenças e de vontade de partilhar, mostrar e experimentar.
E há também momentos de improvisos e coincidências como a electrizante e irrepetível (passe a redundância) jam session nocturna incluída no London Jazz Festival 2009, que enfiou e misturou na cave de uma pizzaria muitos dos génios espalhados pelo cartaz do evento, com colaborações aleatórias geradas aleatoriamente pelo guardanapo, a caneta e a garrafa de vinho do anfitrião. Ou ainda a banda de blues rota/bem disposta a tocar ao acaso num bar de Portobello Road enquanto fugíamos da chuva.
Nenhum de nós sabia do London Jazz Festival quando marcamos a viagem. Para mim, pelo menos, o facto de ter coincidido com a nossa viagem é prova suficiente da vontade centrifugadora do universo de tornar esta semana a semana perfeita para visitarmos Londres.

São as coincidências que fazem os momentos memoráveis. E as vidas também.

quinta-feira, novembro 19, 2009

London Diaries, Chapter II

Ao contrário do que me tinham prometido, Londres não é um deslumbramento imediato. É uma amálgama, às vezes um pouco concentrada demais, de uma cidade com este peso de humanidade às costas. Uma cidade de monumentos mas de lojas de tudo e nada encavalitadas, à procura de um espaço que nunca será delas. Londres de orientais e muçulmanos mais do que de ingleses, Londres de turistas (espanhóis e brasileiros, tantos!). De lojas de luxo e de galinheiros iguais onde se compra tudo que o desespero ou a necessidade gritarem.
Londres tem o que de melhor se pede numa cidade, bem como partes do pior. Londres é uma cidade moderna, um centro de mundos. E está na hora de deixarmos de duvidar: há muito poucos mundos bonitos por aí.
Esta viagem foi uma concentração de coincidências felizes que tinha tudo para dar certo. Dois tipos com vontade de ver tudo, fazer tudo - mesmo massagens orientais! - e gastar pouco. Fartos de estar parados, ou se quiserem mais à vontade com a nossa natureza nómada reprimida por séculos de civilização. E o facto de a viagem ter calhado (literalmente) no Outono, já a entrar no período natalício foi uma dessas coincidências felizes. Hyde Park de folhas a cair de dia, Londres néonica de Natal, à noite. Quem quiser escolher melhor altura do ano, pode tentar. Eu pessoalmente não gosto de perder tempo.
A poesia do néon é pouco convencional. É estridente e espalhafatosa e cobre a cidade em polvorosa para chegar a todo o lado, com táxis e autocarros que resistem ao tempo para não deixar a cidade parar. O néon ajuda. Acorda, incentiva e grita que os dias podem acabar, e que a arte está nos museus mas foi resgatada das ruas e das pessoas.
Parem um pouco numa rua caótica qualquer, e observem. Mas todos temos um olhar carregado de algo que a princípio desconhecemos. Não se enganem. Passam pessoas nas ruas. Mas escolham um canto mais protegido do vento e da chuva, e reparem. Há olhares a passar. Rostos. Há sorrisos e dramas a correr tão rápido que, se não fosse o brilho do néon reflectido nas, talvez nos conseguissem escapar.

terça-feira, novembro 17, 2009

London Diaries, Chapter I

Não me culpem por ter chegado a Londres de pé atrás. Alugar um quarto a um tipo qualquer que tínhamos contactado por telefone, por 20£ por noite podia ser no mínimo suspeito. E como continuo a ensinar-me a confiar menos nos outros e mais em mim, estava silenciosamente alerta enquanto esperávamos Niles, o "senhorio". Pelo caminho a pronúncia pouco britânica já nos tinha garantido cinco minutos de conversa de surdos com um funcionário do metro.
Há um tipo alto a aproximar-se, de mão estendida, e um sorriso enorme a condizer. Ao seu lado, um pintas que podia ter saído de um qualquer bairro lisboeta algumas décadas atrás: cabelo platinado, ouro, camisa às flores - o set completo. Despede-se à pressa, atrapalhado e desaparece, deixando Niles entregue àquela que era aparentemente a sua actividade favorita: falar como um desalmado. Sobre a alegada falta de chuva em Londres, sobre os cuidados a ter para sobreviver à cidade, entrecortadas por dezenas de desculpas pela casa ser muito pouco parecida com o palácio de Buckingham. Aqui fica a descrição de Niles completa: grande, cabelo grisalho comprido atado num rabo de cavalo apressado e uns olhos cinzento-azuis abertos, enormes, mesmo abertos, como se tivessem que ver o mundo tudo antes que alguma coisa se passasse fora do seu alcance. Niles não era gago, mas quando não sabia o que dizer a seguir, repetia maquinalmente a última sílaba até se lembrar do que vinha seguir, ou de o inventar. Mais tarde íamos discutir que parte de Niles ser assim se devia à loucura ou aos copos que já devia ter bebido àquela hora. Eu encontrava-me firmemente do lado da loucura. Um louco gigante que nos alugou um quarto pelo preço da chuva - chuva essa que fez questão de cair abundantemente nos dias que se seguiriam como que para sublinhar a falta de senso de Niles quando nos dizia que em Londres praticamente nunca chovia. Notória quando nos explicava três vezes como funcionava a máquina de lavar roupa ou nos mostrava que, na opinião dele, a roupa saía da máquina tão pouco encharcada que às vezes a vestia imediatamente. Tinha também explicações sobre tudo, desde os computadores das bibliotecas públicas britânicas até aos tratados medievais assinados entre Portugal e Inglaterra. Niles tinha ainda duas toalhas de banho para nós. Devia ter por volta de 40 anos. Essa foi a primeira e última vez em que vi Niles.
Como deve ter ficado claro, fomos para Londres como turistas e acabamos por aterrar directamente num sketch real de uma britcom a valer. Londres dos londrinos, britânica de gema. A Londres dos turistas ficaria para o resto da semana.


Nota: A noite incluiu ainda um jantar num pub irlandês, brasileiras embriagadas, música ao vivo e a primeira viagem num double decker bus de borla.
[Sim, "There is a light that never goes out" fazia obviamente parte da banda sonora para toda a semana.]

London, II [com chuva]

segunda-feira, outubro 26, 2009

a noite desce e esconde a paisagem em soluços de sombra. e esconde-me de meus próprios pensamentos. um escuro tão espesso que ao passar uma mão pela outra não as sinto.

é no insante fulgurante em que já não possuo corpo, nem sentimentos, nem desejo algum, que surje a escrita: essa mentira.

escrever é um modo falsamente inofensivo de nos suicidarmos. um dia esquece-se tudo, escrevemo-nos. no fundo, sou um homem sentado, a escrever, num recanto inacessível do meu próprio corpo.


Al Berto, "O Medo"

segunda-feira, setembro 14, 2009

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo: "La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos.
"El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como esta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oir la noche inmensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche esta estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos árboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto, pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto el amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como esta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque este sea el ultimo dolor que ella me causa,
y estos sean los ultimos versos que yo le escribo.

Pablo Neruda, Veinte poemas de amor y una canción desesperada

terça-feira, agosto 25, 2009

" (...) e lá vamos ambos aos tropeções em direcções opostas, relutantes, dir-se-ia - relutância esta que dura apenas um breve instante, o ar fresco da noite fustiga a nossa solidão recém-nascida e tanto eu como Indio nos afastamos, homens novos, e o sorriso, parte do velho sorriso, desaparece, já no necessita - Ele para sua casa, eu para a minha, porquê sorrir a noite inteira a pensar nisto, a não ser que estivéssemos acompanhados - A desolação do mundo delicadamente -"

Tristessa, Jack Kerouac

segunda-feira, agosto 24, 2009

Névoas rochosas de Agosto

Estavas sentada ao meu lado. Eu lembro-me. Era um mês de Agosto qualquer. A névoa aproximava-se da nossa indiferença como ossos esquecidos do tempo. Não nos mexemos, mesmo quando a névoa turva de gelo nos envolveu num laço húmido, talvez de ternura. Ou morte. Quando as horas se cansaram de esperar pelo fim do meu lápis quase infinito, as ondas pediram licença para nos engolir. E, enquanto fugia, forçado pelo ter que ser do futuro, podia jurar - sim, de certeza - no canto do olho, vi-te, voltada, a sorrir para mim com se eu te entregasse por fim ao paraíso granítico do fundo do mar.

E se alguns momentos pudessem durar para sempre?

quarta-feira, julho 29, 2009

o vigilante da noite estava ali parado,
quieto,
sentado,
de cauda no ar
a dar horas de inifito

quarta-feira, junho 24, 2009

ressaca para uma autobiografia

Permaneço deitado, ignoro o dia, não me mexo, recuso-me a pensar. Durmo como se nunca mais acordasse, e ao acordar já é novamente noite. Como abundantemente, fumo muitos cigarros e bebo pelo menos meio litro de café.
Mas, apesar de tudo, e com a prática de muitas ressacas, nem sempre consigo evitar a dor provocada por essa mesma ressaca- a ressaca mental.
Sempre bebi em quantidade, violentamente, para perder a noção de mundo, e do mundo. Nunca bebi por paixão, nem por desgosto de amor, não, nunca bebi dramaticamente. E no dia seguinte a ter bebido muito, é como se os sentidos e a memória tivessem sido passados a esfregona e lixívia.
E dos sentidos surgem então sensações estranhas. Por exemplo, um órgão qualquer desata a arder, ou perco a visão- cego por instantes, e sou obrigado a tactear-me para me certificar de que existo.
Nada disto é agradável ou desagradável, é um outro estado de singular lucidez que pode prolongar-se horas a fio, entre uma espécie de escuridão primordial e a fulguração dum tempo ainda por vir, ou já eterno.
Fico assim, perdido no fundo de mim mesmo, sem nome, sem olhar para o que me rodeia, sem corpo que me transporte, sem pensamentos.
Quanto à memória, é terrível. Umas vezes vai buscar imagens distantes de acontecimentos que, em geral, ainda virão a suceder. Outras, pura e simplesmente não há memória de nada. Um pouco como se eu começasse a ser a cada fracção de segundo, e levo um tempo infinito, desumano, para erguer de novo, peça a peça, o que sou.
A embriaguez é um momento de vida incendiada, ou suspensa, e a ressaca um tempo de lenta e demorada reconciliação com o mundo, e comigo mesmo.
Mas, um dia, tenho a certeza, não terei forças para me reconciliar com o mundo, nem vontade de regressar de onde estiver. Continuarei a beber ininterruptamente e não haverá mais ressaca, nem dor.
Seduz-me a ideia de vir a morar num corpo que já não sente, etílico talvez, transparente, e com uma leveza de cinzas

O medo, Al Berto

terça-feira, junho 16, 2009

The Law for the Wolves

"Now this is the law of the jungle, as old and as true as the sky,
And the wolf that shall keep it may prosper, but the wolf that shall
[break it must die.
As the creeper that girdles the tree trunk, the law runneth forward
[and back;
For the strength of the pack is the wolf, and the strength of the wolf is
[the pack.

The second jungle book, Rudyard Kipling

sexta-feira, junho 05, 2009

Mergulho da Passagem Área

Sinto o frémito da cidade atravessada no ferro.
O chão sobressaltado tenta assustar os meus pés, deliciados com o pânico descalço dos carros que fogem em pontas às horas imperdoáveis. A vibração do ar em histeria percorre a minha pele sôfrega, extasiada. deixo-me preparado para voar. sorrio, num último relance, antes de partir em arco sobre o asfalto submerso.

terça-feira, junho 02, 2009

Schmidt (Na sua morte)

"E ele morria em seu noturno aquário, esmagado pelo teto do infinito, náufrago de si mesmo - um poeta como quem se afoga.

(...)

No fundo devo-lhe muito. Aliás, por falar em dívida, fiquei lhe devendo cinco contos, emprestados há muitos, muitos anos.
Eu lhe digo o que farei, meu caro Schmidt. Hoje à noite, quando sair para fazer meu show, pegarei numa nota de CR$ 5.000, bem amassada numa bolinha, e a jogarei para cima, com toda a força que tiver. Se você ainda estiver levitando por aí e conseguir pegá-la, muito bem. Se não, tudo o que eu desejo é que caia perto de alguém mais pobre do que eu."

Vinicius de Moraes, Para uma menina com uma flor

quinta-feira, abril 16, 2009

piano bossa nova

ah, Vinícius
esse amor e essa dor
esse poema cantado
esse verso iluminado
esse ardor...

queria ter um verso pequeno
para dar pra você
cheio da ternura do mundo
só pra eu e você...

ai Vinícius
esse rio ao luar
essa garota dormindo
pra te conquistar...

ah, embriaguez das palavras
dos sorrisos achados
do amor desencontrado
dos nenéns atropelados
na escuridão.

ah, meu pai
mestre de poeta maldito
rima um pouco comigo
me deixa cantar esse grito
da minha canção!

sábado, março 14, 2009

Pointless Nostalgia

You know you have been Erasmus student in Lithuania when...

1.Now your country doesn't seem to be as cold as before.
2.You know that Svyturys is the best beer in the world.
3.You miss Cepelinai, blynai and moreover kepta duona.
4.You know that Nida exists and its wonderful.
5.You use the word "šūdas" sometimes.
6.You know at least one of the following words: pimpas, pimpalas and bybis.
7.You ordered several times alus or degtinė.
8.You have been in a big party organized by lithuanian government for Erasmus students and you got drunk for free.
9.Some lithuanian people asked you...Why Lithuania?
10.You had a trip of 4-5 hours by train or bus and you almost cross a country by the widest side!!
11.You support Kaunas Zalgiris.
12.You pay attention everytime you listen about lithuanian national basketball team on TV.
13.You know that "universitetas" sounds funny in spanish.
14.You visited Vilnius and Kaunas at least 1 or 2 times (if you were not studing there).
15.You are thinking or even planning your next trip to Lithuania.
16.You had troubles filling papers for the migration office.
17.You shouted "Lie-tu-va!"
18.Even if your dormitory/flat was a shit, there was always something worse for lithuanian students at 1st course.
19.You have taken more buses in Lithuania than in your country in 5 years.
20.You are registered in www.one.lt despite not understanding anything (or you have a friend who does).
21.You woke up several saturdays, sundays and even fridays and was already night outside.
22.You listen Inculto, G&G Sindikatas, Skamp or other lithuanian music bands.
23.You have been at least in one of the next clubs: Global, Pramogu Bankas, Gravity, Helios, Galaxy, Europa, Exit or Sienas.
24.You know where to find at least 2 Čili Pica and Čili Kaimas.
25.You think Akropolis is the perfect place where to go when you are bored.
26.You listened Justinas Timberlakas and watched movies of Bradas Pittas, but the best was the last of Djeimsas Bondas.
27.You think TELE2 is the cheapest cell phone operator in the world.
28.You know someone called Vytautas, Juozas, Petras, Mindaugas, Dovile or Ausrine.
29.Before Lithuania, you would never believe that the names listed before exist.
30.You know that despite being lost anywhere in Lithuania you will find a "Maxima" or "Iki" within walking distance.
31.You ate more potatoes and meat than ever before in your life.
32."Labas" sounds cooler than "Hello", and "Iki" is the most!
33.Bristish people eats too early, spanish people eats too late, but you prefer the lithuanian way: they eat everytime they are hungry (but you don't know fat lithuanians).
34.You don't need reasons, you love Lithuania.

(quote from facebook.com)

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

"..For behold, it's because they're in love with themselves that they want you to look at them all the time and keep drawing your attention--in love with themselves and not with you, for if they really loved you, they would not disturb your natural tranquillity of mind---Therefore the most beneficial teaching in this world is the teaching by silence and example of example of silence and repose-----But some must bake the bread, and some eat it, and the bakers are agitated--- Bake therefore yr own bread, calm . . . If you dote one the love of another human being, every time you disturb (her him) to draw your attention to your loving, you do her a disservice as of hating. Beware of lechery and then beware of the conspiring earnestness. . Be like a junk a junk drunk punk, hang motionless in the wait for the time to wheel around . . . This is why a man doesnt need a woman, or a cigarette, or a house. He needs just food for sustenance and a decision to exercise his frill will in thought, and action, and thought is the shadow of action, which is a shadow also."

Some of the Dharma, Jack Kerouac

terça-feira, fevereiro 10, 2009

32

"(...) --- Vejo pairar diante de mim toda uma vida de intermináveis tagarelices na cozinha, os longos sepulcros negros de palavras trocadas à meia-noite sob a lâmpada da cozinha, e sinto-me invadido pelo amor quando me dou conta que a vida, tão sôfrega e incompreendida, não deixa por isso de estender uma mão magra e esquelética para mim e para Billie --- Mas vocês sabem o que eu quero dizer.
E é assim que tudo começa."

Big Sur, Jack Kerouac

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Ele estava sentado no banco a olhar para a chuva convencido que o próximo autocarro nos ia acabar por afogar. E depois perguntou-me. “Porque é que achas que tens mais cultura geral que os outros? Somos mais inteligentes, ou a culpa é toda dos nossos pais por sermos estes totós marginais à espera de um autocarro, demasiado bons para arranjarmos boleia com o gajo do lado afinal?”. “Estás a ver tudo ao contrário meu. Eu só tenho mais cultura geral porque os intelectuais de direita pelo mundo fora a definiram assim. Porque que raio é que eu devo ter mais mérito por gostar mais de livros que aquele gajo do boné de gostar de tunning? Eu aceito as coisas de que gosto da mesma maneira que ele provavelmente!, que culpa ou mérito tenho eu por saber a tonalidade da nona sinfonia do Beethoven em vez de saber mudar uma bateria a um carro? Quando o mundo acabar provavelmente ele vai acabar por ser mais útil do que eu…e não anda de autocarro.”
“Pois, isso é tudo muito bonito, mas e as miúdas meu? Já viste as mulheres que tu tens? E não te esqueças, já te disse isso muitas vezes, tu és mesmo quase quase feio! Como é que achas que consegues, é tudo aleatório ou culpa da sociedade? Não me fodas!”
“Fodo sim! Elas só me acham piada porque os gajos como eu supostamente têm algo que elas gostam, ou que devem gostar ou lá o que é. Gostam do tipo de merdas que eu digo quando estou deitado com elas sem pensar, e acredita que são mesmo um monte de tretas completamente desconexas e sem piada nenhuma. Repara. Eu viro-me para uma miúda e digo: “A tua beleza é deslumbrante”. Mas só faço isto depois de a conhecer há algum tempo, e durante todo esse tempo faço de conta que nem olhei para o corpo dela, para ela achar que o que me interessa é o que está por dentro ou o que ela diz ou qualquer coisa assim. Depois digo isso e elas ficam fascinadas. Um trolha que diga “És como um helicóptero: GIRA E BOA!” sem preparar o terreno antes é pior pessoa que eu, ou menos interessante? Tenho a certeza que o melhor que o trolha conseguiria fazer era “És muito bonita e atraente, sabias?”, que muito honestamente acaba por ser uma versão um bocado maricas da primeira tentativa. Eu, por outro lado, se me esforçasse ou fosse minimamente digno do meu melhor, devia ter dito algo do género “sabes, vamos todos acabar por morrer electrocutados de amor quando o céu nos cair em cima como um banho de sangue.” E agora diz-me que ele não está muito mais perto do seu melhor do que eu? No fundo eu sou um bocadinho de mim enterrado num monte de merda, e ele só tem um lago quase transparente a tapar-lhe a cara. É muito mais fácil chegar a ele. Eu sou uma farsa sepultada. Elas só gostam disto porque acham que deve ser bonito. E não percebem que nunca vão chegar a mim, e que ele era muito melhor.”
“Foda-se, nunca mais bebo contigo.”
“Está bem. Vamos a pé, que se foda a chuva.”

domingo, janeiro 25, 2009

La Palabra

Nació
la palabra en la sangre,
creció en el cuerpo oscuro, palpitando,
y voló con los labios y la boca.

Más lejos y más cerca
aún, aún venía
de padres muertos y de errantes razas,
de territorios que se hicieron piedra,
que se cansaron de sus pobres tribus,
porque cuando el dolor salió al camino
los pueblos anduvieron y llegaron
y nueva tierra y agua reunieron
para sembrar de nuevo su palabra.

Y así la herencia es ésta:
éste es el aire que nos comunica
con el hombre enterrado y con la aurora
de nuevos seres que aún no amanecieron.

Aún la atmósfera tiembla
con la primera palabra
elaborada
con pánico y gemido.
Salió
de las tinieblas
y hasta ahora no hay trueno
que truene aún con su ferretería
como aquella palabra,
la primera
palabra pronunciada:
tal vez sólo un susurro fue, una gota
y cae y cae aún su catarata.

Luego el sentido llena la palabra.
Quedó preñada y se llenó de vidas.
Todo fue nacimientos y sonidos:
la afirmación, la claridad, la fuerza,
la negación, la destrucción, la muerte;
el verbo asumió todos los poderes
y se fundió existencia con esencia
en la electricidad de su hermosura.

Palabra humana, sílaba, cadera
de larga luz y dura platería,
hereditaria copa que recibe
las comunicaciones de la sangre:
he aquí que el silencio fue integrado
por el total de la palabra humana
y no hablar es morir entre los seres:
se hace lenguaje hasta la cabellera,
habla la boca sin mover los labios:
los ojos de repente son palabras.

Yo tomo la palabra y la recorro
como si fuera sólo forma humana,
me embelesan sus líneas y navego
en cada resonancia del idioma:
pronuncio y soy y sin hablar me acerca
al fin de las palabras al silencio.

Bebo por la palabra levantando
una palabra o copa cristalina,
en ella bebo
el vino del idioma
o el agua interminable,
manantial maternal de las palabras,
y copa y agua y vino
originan mi canto
porque el verbo es orígen
y vierte vida: es sangre,
es la sangre que expresa su substancia
y está dispuesto así su desarrollo:
dan cristal al cristal, sangre a la sangre
y dan vida a la vida las palabras.

Pablo Neruda, Plenos Poderes

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Vamos todos festejar o Natal. Festas e família, prendas. Solidariedade. Distribuição de sorrisos. Vá. Eu torno-me um pintor de sorrisos, e todos também. Roupas caras e solidariedade barata. E egos cheios. Este natal sinto-me bem. Dei três peluches semi-novos (tenho quase a certeza que ainda nem fizeram 10 anos!). Dois pares de calças quase sem buracos, e três camisolas pouco largas. E ainda não começaram a cheirar a mofo praticamente. E ei-los. Egos e consciências mais tranquilas pelo Natal. E estamos lançados: Mais preparados que nunca para enfrentar mais um ano difícil, cheio de desafios e novidades, e já não precisamos de pensar nos outros, pelo menos naqueles que não têm nada. A família ainda leva uma prenda nos anos, mesmo a tia que me dá aquelas camisas à riscas. Mas que raio fiz eu para merecer camisas às riscas? Ainda bem que as dou também. Se calhar até consigo passar dois anos sem dar nada a ninguém sem me preocupar, abençoadas as camisas pirosas e consciências porreiras de acalmar. Mas este ano custou tanto ir aos bombeiros. Duas horas no trânsito, o guarda-chuva todo torto, os dois pés na na mesma poça, um para lá, outro para cá, e pareço o comandante num navio a afundar. Estas deviam dar para três anos. Mas pronto. Depois de um banho e a sopa começo a aquecer e fico tão quente cá dentro que me sinto a melhor pessoa do mundo. Que bom, dar sem esperar nada em troca. FODA-SE, ACABASTE DE ALUGAR A TUA CONSCIÊNCIA POR UM ANO INTEIRO. É ASSIM TÃO POUCO ÓBVIO, CARA DE CU EGOÍSTA?
E não me venham com merdas, que penso isto ou aquilo. Ou me digam que conhecem muitas pessoas que não são assim. Eu também conheço um ou dois canhotos, mas o que é certo é que a maioria da população é destra. Se eu trouxer o meu amigo cá a jantar porque tem um pé esquerdo do caralho, deixamos de ter falta de esquerdinos no futebol? Não me fodam.
E a melhor. Eu também sou destro. E também conforto a consciência pelo Natal para ver se ela aguenta o puto do ano todo sem me obrigar a pensar nas criancinhas em África e na história dos dedos a estalar e deles todos a morrer fome. Sou igual a vocês. Lamento. Eis a prova que faltava: Somos todos Filhos da Puta. Já agora, a minha vénia a William Burroughs por me ensinar a beleza da escrita correcta. Isto é, com as palavras todas, palavrões e isso. Dá jeito a um gajo com falta de jeito, poder dizer, por hipótese cara de cu em vez de uma explicação qualquer sobre a cara do sujeito ser sisuda e uma série de outras trampas para dar a sensação (e isto se a explicação for muito boa, e o leitor esforçadamente perspicaz) que, talvez, o sujeito seja efectivamente um cara de cu, e nada mais que isso, ou mais disfarçado, apenas um cara de cu em pleno apogeu da sua natureza babuína.