Ele estava sentado no banco a olhar para a chuva convencido que o próximo autocarro nos ia acabar por afogar. E depois perguntou-me. “Porque é que achas que tens mais cultura geral que os outros? Somos mais inteligentes, ou a culpa é toda dos nossos pais por sermos estes totós marginais à espera de um autocarro, demasiado bons para arranjarmos boleia com o gajo do lado afinal?”. “Estás a ver tudo ao contrário meu. Eu só tenho mais cultura geral porque os intelectuais de direita pelo mundo fora a definiram assim. Porque que raio é que eu devo ter mais mérito por gostar mais de livros que aquele gajo do boné de gostar de tunning? Eu aceito as coisas de que gosto da mesma maneira que ele provavelmente!, que culpa ou mérito tenho eu por saber a tonalidade da nona sinfonia do Beethoven em vez de saber mudar uma bateria a um carro? Quando o mundo acabar provavelmente ele vai acabar por ser mais útil do que eu…e não anda de autocarro.”
“Pois, isso é tudo muito bonito, mas e as miúdas meu? Já viste as mulheres que tu tens? E não te esqueças, já te disse isso muitas vezes, tu és mesmo quase quase feio! Como é que achas que consegues, é tudo aleatório ou culpa da sociedade? Não me fodas!”
“Fodo sim! Elas só me acham piada porque os gajos como eu supostamente têm algo que elas gostam, ou que devem gostar ou lá o que é. Gostam do tipo de merdas que eu digo quando estou deitado com elas sem pensar, e acredita que são mesmo um monte de tretas completamente desconexas e sem piada nenhuma. Repara. Eu viro-me para uma miúda e digo: “A tua beleza é deslumbrante”. Mas só faço isto depois de a conhecer há algum tempo, e durante todo esse tempo faço de conta que nem olhei para o corpo dela, para ela achar que o que me interessa é o que está por dentro ou o que ela diz ou qualquer coisa assim. Depois digo isso e elas ficam fascinadas. Um trolha que diga “És como um helicóptero: GIRA E BOA!” sem preparar o terreno antes é pior pessoa que eu, ou menos interessante? Tenho a certeza que o melhor que o trolha conseguiria fazer era “És muito bonita e atraente, sabias?”, que muito honestamente acaba por ser uma versão um bocado maricas da primeira tentativa. Eu, por outro lado, se me esforçasse ou fosse minimamente digno do meu melhor, devia ter dito algo do género “sabes, vamos todos acabar por morrer electrocutados de amor quando o céu nos cair em cima como um banho de sangue.” E agora diz-me que ele não está muito mais perto do seu melhor do que eu? No fundo eu sou um bocadinho de mim enterrado num monte de merda, e ele só tem um lago quase transparente a tapar-lhe a cara. É muito mais fácil chegar a ele. Eu sou uma farsa sepultada. Elas só gostam disto porque acham que deve ser bonito. E não percebem que nunca vão chegar a mim, e que ele era muito melhor.”
“Foda-se, nunca mais bebo contigo.”
“Está bem. Vamos a pé, que se foda a chuva.”
“Pois, isso é tudo muito bonito, mas e as miúdas meu? Já viste as mulheres que tu tens? E não te esqueças, já te disse isso muitas vezes, tu és mesmo quase quase feio! Como é que achas que consegues, é tudo aleatório ou culpa da sociedade? Não me fodas!”
“Fodo sim! Elas só me acham piada porque os gajos como eu supostamente têm algo que elas gostam, ou que devem gostar ou lá o que é. Gostam do tipo de merdas que eu digo quando estou deitado com elas sem pensar, e acredita que são mesmo um monte de tretas completamente desconexas e sem piada nenhuma. Repara. Eu viro-me para uma miúda e digo: “A tua beleza é deslumbrante”. Mas só faço isto depois de a conhecer há algum tempo, e durante todo esse tempo faço de conta que nem olhei para o corpo dela, para ela achar que o que me interessa é o que está por dentro ou o que ela diz ou qualquer coisa assim. Depois digo isso e elas ficam fascinadas. Um trolha que diga “És como um helicóptero: GIRA E BOA!” sem preparar o terreno antes é pior pessoa que eu, ou menos interessante? Tenho a certeza que o melhor que o trolha conseguiria fazer era “És muito bonita e atraente, sabias?”, que muito honestamente acaba por ser uma versão um bocado maricas da primeira tentativa. Eu, por outro lado, se me esforçasse ou fosse minimamente digno do meu melhor, devia ter dito algo do género “sabes, vamos todos acabar por morrer electrocutados de amor quando o céu nos cair em cima como um banho de sangue.” E agora diz-me que ele não está muito mais perto do seu melhor do que eu? No fundo eu sou um bocadinho de mim enterrado num monte de merda, e ele só tem um lago quase transparente a tapar-lhe a cara. É muito mais fácil chegar a ele. Eu sou uma farsa sepultada. Elas só gostam disto porque acham que deve ser bonito. E não percebem que nunca vão chegar a mim, e que ele era muito melhor.”
“Foda-se, nunca mais bebo contigo.”
“Está bem. Vamos a pé, que se foda a chuva.”
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