sexta-feira, janeiro 09, 2009

Vamos todos festejar o Natal. Festas e família, prendas. Solidariedade. Distribuição de sorrisos. Vá. Eu torno-me um pintor de sorrisos, e todos também. Roupas caras e solidariedade barata. E egos cheios. Este natal sinto-me bem. Dei três peluches semi-novos (tenho quase a certeza que ainda nem fizeram 10 anos!). Dois pares de calças quase sem buracos, e três camisolas pouco largas. E ainda não começaram a cheirar a mofo praticamente. E ei-los. Egos e consciências mais tranquilas pelo Natal. E estamos lançados: Mais preparados que nunca para enfrentar mais um ano difícil, cheio de desafios e novidades, e já não precisamos de pensar nos outros, pelo menos naqueles que não têm nada. A família ainda leva uma prenda nos anos, mesmo a tia que me dá aquelas camisas à riscas. Mas que raio fiz eu para merecer camisas às riscas? Ainda bem que as dou também. Se calhar até consigo passar dois anos sem dar nada a ninguém sem me preocupar, abençoadas as camisas pirosas e consciências porreiras de acalmar. Mas este ano custou tanto ir aos bombeiros. Duas horas no trânsito, o guarda-chuva todo torto, os dois pés na na mesma poça, um para lá, outro para cá, e pareço o comandante num navio a afundar. Estas deviam dar para três anos. Mas pronto. Depois de um banho e a sopa começo a aquecer e fico tão quente cá dentro que me sinto a melhor pessoa do mundo. Que bom, dar sem esperar nada em troca. FODA-SE, ACABASTE DE ALUGAR A TUA CONSCIÊNCIA POR UM ANO INTEIRO. É ASSIM TÃO POUCO ÓBVIO, CARA DE CU EGOÍSTA?
E não me venham com merdas, que penso isto ou aquilo. Ou me digam que conhecem muitas pessoas que não são assim. Eu também conheço um ou dois canhotos, mas o que é certo é que a maioria da população é destra. Se eu trouxer o meu amigo cá a jantar porque tem um pé esquerdo do caralho, deixamos de ter falta de esquerdinos no futebol? Não me fodam.
E a melhor. Eu também sou destro. E também conforto a consciência pelo Natal para ver se ela aguenta o puto do ano todo sem me obrigar a pensar nas criancinhas em África e na história dos dedos a estalar e deles todos a morrer fome. Sou igual a vocês. Lamento. Eis a prova que faltava: Somos todos Filhos da Puta. Já agora, a minha vénia a William Burroughs por me ensinar a beleza da escrita correcta. Isto é, com as palavras todas, palavrões e isso. Dá jeito a um gajo com falta de jeito, poder dizer, por hipótese cara de cu em vez de uma explicação qualquer sobre a cara do sujeito ser sisuda e uma série de outras trampas para dar a sensação (e isto se a explicação for muito boa, e o leitor esforçadamente perspicaz) que, talvez, o sujeito seja efectivamente um cara de cu, e nada mais que isso, ou mais disfarçado, apenas um cara de cu em pleno apogeu da sua natureza babuína.

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