segunda-feira, março 06, 2006

Deste mármore frio
desta tijoleira de descalço encarnado
desta brisa quieta de gelo
deste Inverno.
e todos eles, istos e aquilos
sou trazido pela noite
uma noite sem adjectivos
uma noite qualquer
sem verbos ou predicados
complementos ou qualquer outra manha.
É daqui e dali
e de qualquer outro lugar
que sou trazido
não sei se por mim
ou talvez sem mim.
sou trazido ou venho
a este poema que me espera
atrás de uma página perdida
de um pensamento com medo de me esquecer.

Visto de fatos de manteiga cobertos
torradas nuas roubadas à manhã
e então vejo duas pétalas púrpura
baloiçando inertes de uma jarra vazia.
Lá fora, a chuva irrita
a sua voz monocórdica
a sua humidade desgraçada
e frio, tanto frio
que não oiço, nem sinto,
no entanto é verdade.
E então lembro-me das putas.
Pobres putas, sem luar para aquecer
a alma, que os corpos serão sempre frios
mas corações vazios, esses ninguém os tem.
Sou um mestre quando toca a ter pena
sou uma imensa intempérie
de pensar e não agir
sou um indigno cárcere para pensamentos tão belos
ideias tão puras que faço calar.

Desiludido e refeito
descalço de mármores e intenções
trilho estas escadas trazido de novo
e entrego-me à pornografia
de um livro inerte
que se abre para me deixar entrar.

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