sexta-feira, dezembro 21, 2012

segunda feira, ao cair da solidão

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Do lado de fora da janela pareciam apenas dois vultos perdidos num café qualquer. Mas lá dentro não. Ele, relaxado na cadeira, numa pose de aparente descontracção, tentava como de costume disfarçar a insegurança que o invade cada vez que vê o rosto dela assim, inteiro, ocupar por completo a sala com o entusiasmo de quem encerra a importância do destino do mundo nos assuntos mais triviais.

Para ele tinha sido sempre assim. Partilham a solidão sincronizada com chá ou café, em bares mais ou menos sofisticados, e deixam nesses instantes, o resto do mundo desacontecer. 
Param sempre tarde demais. Esperam sempre até depois do fim porque juntos aprenderam a desconstruir o tempo. E, quando o sorriso dela parte a galope ao sabor de um relato banal qualquer, ele faz um esforço ignóbil para perceber como é que o resto do mundo não entrava em combustão instantânea perante a alegria incendiária com que ela tentava (em vão) esconder o coração.

Ao chegar a casa, nada faz sentido: os copos, as paredes, o silêncio. Estuda no espaço vazio que acompanha a sua ausência os motivos, a arquitectura por detrás das duas meias luas que edificavam aquele sorriso com detalhes de paraíso. Mas cada vez percebe menos. Apenas a suspeita de que aqueles encontros não são mais que o destino final de duas fugas perpendiculares, destinadas a encontrar-se ali, sempre ali, no epicentro da solidão.

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