A dança insegura dos teus cabelos nos meus dias
tem um aroma cor de amêndoa,
um sabor ignorado à alegria
que nenhum de nós ousa sequer sonhar.
Há algo no teu rosto
um qualquer esboço primitivo
uma sugestão das primeiras primaveras
de um tempo tão puro
que já ninguém sabe imaginar.
Mas o teu olhar tem um sabor de avelãs
e promessas de paraíso,
como se os anjos se tivessem finalmente cansado de cantar,
e tivessem adormecido definitivamente no teu rosto distraído,
espalhados no teu sorriso escondido,
destinado à sedução infinita dos teus braços ondulantes
ao som destas ruas que habitamos desencontrados,
destas ruas que percorremos destinados um ao outro
rumo à destruição voluntária da pouca humanidade que nos resta.
Talvez tudo não passe de um sonho,
em que alguém te semeou,
espalhando na minha paranóia um vestígio cruel de esperança
que me puxa inexoravelmente para ti
e que desenha no abismo do teu encontro
a promessa de um futuro que cheira a amêndoa
um futuro que o teu passo distraído irá
(de certeza)
evitar.
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