Tenho sempre um livro
de poemas
escondido no fundo da mochila
ou no bolso mais recôndito do casaco
seja ele qual for.
Um dia, ao passar junto à praia
percebi, num arrepio de pânico
a tristeza analfabeta
que habita o fundo do mar.
Sentei-me junto às ondas
e, com o cuidado do artesão
desesperado
arranquei do livro
o meu poema favorito.
Dobrei-o com cuidado
arquitecto orgulhoso
do primeiro poema caravela.
E agora
que quase não o vejo
lá ao fundo
ao oscilar nas ondas
frágil como o sol que ainda o ilumina a ele
e a mim não,
continuo indeciso
sem saber o que será melhor:
se ser resgatado por um veleiro qualquer
com sede de paraíso ou barcos de papel
se afundar-se e, com sorte,
ensinar aos peixes a poesia
que mora para lá das águas
e que pertence a qualquer lugar.
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