quinta-feira, novembro 22, 2012

poema catrineta

Tenho sempre um livro
de poemas
escondido no fundo da mochila
ou no bolso mais recôndito do casaco
seja ele qual for.

Um dia, ao passar junto à praia
percebi, num arrepio de pânico
a tristeza analfabeta
que habita o fundo do mar.

Sentei-me junto às ondas
e, com o cuidado do artesão
desesperado
arranquei do livro
o meu poema favorito.

Dobrei-o com cuidado
arquitecto orgulhoso
do primeiro poema caravela.

E agora
que quase não o vejo
lá ao fundo
ao oscilar nas ondas
frágil como o sol que ainda o ilumina a ele
e a mim não,
continuo indeciso
sem saber o que será melhor:
se ser resgatado por um veleiro qualquer
com sede de paraíso ou barcos de papel
se afundar-se e, com sorte,
ensinar aos peixes a poesia
que mora para lá das águas
e que pertence a qualquer lugar.

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