domingo, março 18, 2012

as estações do desassossego

Nas tuas costas há um país inteiro. Nos teus ombros, uma primavera escondida de sorrisos. Nas tuas mãos, fechadas, escondes os espinhos do outono para evitar a melancolia lenta do meu olhar abandonado. Nas tuas curvas, escondemos os escombros de uma história orfã de um final, mesmo que infeliz. E assim, o verão sucede ao inverno nas ruínas incandescentes da nossa memória; os nossos corpos, amputados um do outro, entregam-se na embriaguez sufocada da noite, a fingir felicidades-relâmpago no reflexo turvo de corpos anónimos, devidamente equipados para o desejo descontrolado de quem tenta desesperadamente esquecer-se do fim da esperança; de quem encontra em pernas alheias a promessa húmida de um instante polaróidico que os separa do regresso inevitável à solidão.

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