Como se a imagem fosse a reprodução de um livro, ou outro gerador de imaginações às prestações. Primeiro, uma rua deserta: uma placa explode do vazio, com o nome desenhado devagar: Rua dos Homens Desertos. De repente uma casa, mas não uma casa, apenas a dimensão, as linhas; um tamanho.
E de repente cores. Monocrónicas, sujas, mas paredes agora a preencher o espaço antes invisível que ficava para lá das dimensões decididas no momento.
E depois janelas. Uma porta de alumínio, pedaços de vidro a desaparecer de uma das janelas que afinal está partida. De repente o frio na casa, porque a porta afinal não fecha sequer, e há também um gemido, dos ferros que aos poucos ganham a ferrugem do abandono que ficara esquecido na descrição até agora. Agora um sufoco. Pó, em perpétuo movimento, eternamente perdido pela casa abandonada. Pelas divisões que surgem agora, porque até agora a casa era um cubo deserto. Uma sala, com sofás esqueletos de alimento para ratos e animais afins. Uma caldeira negra, não de cor, mas de fuligem. Quadros tortos, alguns teletransportados, da parede para o chão. Todos de repente partidos! Um relógio na parede, quase deitado, a escolher uma hora incerta, afinal definida, duas e um quarto, certo duas vezes por dia.
Um fim nasce agora à sala. Um corredo escuro em que se vislumbra um vidro que o pó proibe de ser espelho. Sombras a sugerir portas que da sala não podem ser mais que ideias semidefinidas do resto da casa que acaba, abruptamente, com a indicação de ruídos na rua...
Vozes afinal. Distintas, claras. Finas como areia. Um olhar para trás. Uma multidão de homens -deserto apontam os seus olhares de terra.A quem? A mim? À personagem? Momentos de dúvidas, e é já tarde demais. Jactos de esperma-areia num deserto orgásmico onde cemitérios de ideias sugerem a possibilidade de livros que a areia não me deixou escrever.
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