terça-feira, janeiro 24, 2006

Se me pedirem para dormir, não o farei.
Tenho uma missão, de acompanhar a noite solitária,
de partilhar a sua orgia de minutos lentos e decadentes
e sentir as suas dores silenciosas em cada estrela que não vejo,
iluminado pelo luar oculta por nuvens negras de queixume
perdido pelos segundos incoerentes que me assaltam ao passar.

Ergo-me em tom de desafio, sono que vais tão longo,
não te darei o prazer da rendição
na minha alma fui feito rebelde,
forjado por punhais de aço,
que me acariciam o coração descalço
frios, tão frios,
lâminas frias, punhais frios,
e o meu coração tão duro.

Mirar-te-ei nos olhos e então
então ver-me-ás sorrir com a aurora
e nada me faltará,
serei o glorioso soldado
erguendo o queixo sobre o campo,
sobre o corpo
sobre o sangue
do soldado decapitado
que me olha com o seu olhar branco
vazio
sono vazio
e dir-te-ei
"perdeste de novo a batalha."

Sinto o frio da geada cair sobre mim
e limpo a espada que em momentos
segundos, tempos,
ferirá de sono o meu coração
e aí
tombarei
lado a lado
com o soldado sem cabeça
de olhos blindados,
e ficarei perdido
no branco do olhar daquele soldado
morto como ele,
perdido como ele,
vazio
sono vazio,
entre ervas de sangue e de saudade
erguerei o meu sono
sereno e diurno,
morro sozinho,
mas a noite acompanhada.

1 comentário:

Anónimo disse...

adorei este :) *************