sábado, junho 29, 2013

já não te sei esquecer - olá, bem vinda de volta a este carrossel fúria tarde tempestade verão vestido de inverno da cabeça aos pés relâmpagos encharcados de saudade - estamos de volta ao ponto perpendicular à esperança, ao carrossel em que ensaiamos suicídios em forma de dança, ao carinho desenhado com gestos siameses, quase sem medo da felicidade.
e  falhar. corredores em que abraços nos encostam ao esquecimento em que os nossos braços repousam agora, devolvidos ao silêncio, vazios,  perdidos nesta fuga precipitada, nesta lonjura de não nos conseguirmos amar.

fomos feito assim, desamparados um do outro, plantados em continentes separados, forjados em lágrimas estrangeiras, nascidos em poemas ieroglíficos impossíveis de decifrar, entregues a um carinho sem fronteiras que ameaça a nossa sombra como a promessa da desilusão iminente.

o planeta que nos separa é quase visível deste canto do mundo que me abandona; é pequeno, dado a sonhos e esperanças, erguido em forma de muralha ao longo deste país-cadeia-desilusão que nos acolhe
na morte como à nascença,
na vida como na saudade.
quando perceberes
ou não te souber explicar
as facas e as paredes que nos atravessam
os nossos pés abençoados pelo mar
os teus cabelos em ondas de fazer de conta
baptizados pelo luar.

Não sei mais o lugar
das felicidades que aconteceram
sei alguns dos teus dedos
uns enormes, outros pequenos
dedicados a minutos
de me fazerem feliz.

é verão.
estamos tão quase a regressar.

terça-feira, junho 25, 2013

Morte de uma pintora viajante

Ainda tem espalhados na mesa
um arco-íris de lápis de cor
com que pintava outra viagem
com muito carinho e candor.

Tinha um lenço no cabelo
olhos abertos até ao coração
e munida de tamanho sorriso
que diabo faz ela no chão?

"O sorriso parece de mármore"
comenta um senhor junto à porta.
Outros perguntam quantas vezes terão a sorte
de ver, numa viagem de comboio,
outra mulher assim tão morta.

Descobriu-se posteriormente
que sofria de leucemia
e apanhava  o comboio diariamente
por gostar da companhia.

E assim, em andamento pintava,
entre desconhecidos e carris
(porque foi assim que sempre quis)
aquela vida que lhe acabava.

haiku on the run #2

do cima da montanha a verdade fulminante
em cimento:
a dor, imutável como a cidade.

haiku on the run #1

o comboio morre-nos ao pôr do sol
mais
tesões acéfalos abraçados em solidão

devoção paralela

Em nome do pai
e se o amor não sai
do filho
construímos um ninho;
e do Espírito Santo
gosto de ti tanto,
como era no princípio
e como sabes o que sinto
agora e para sempre
esperamos juntos que o futuro entre.
Amém.
Amém.
e quando ela mudar de ideias
oferece-lhe todas as luas
que carregas aos ombros, cheias
de saudades que se calhar são suas
perdidas em algibeiras
como verdades seminuas;
conta-lhe sonhos, meias
verdades, casas e ruas
de mulheres, todas solteiras
imaginariamente nuas
deliberadamente tuas.

open letter to the end of love

I shall write us no more. These words are not yours, but for you. There is no love. The tears we shed washed away by the tide that  washes our memories away. Because there is no other way. You must keep storming through everyone's lives like a rainbow butterfly a tornado smile causing nuclear holocausts in unsuspecting hearts reduced to the atomic ashes of your ever blossoming lips. This is where I hide my love away: in the warmest of hugs, in the softest of kisses deposited on your forgiving face while I bid my last goodbye. You won't suspect my love's departure for for you it shall be dead. This is the only way. My confusion, my bleeding heart must dive deep never to be seen again. So we can survive. So we can be any kind of us, any but the one we so fiercely chose to hide. chose to crave.
Sing this love a brief eulogy.
Hug it goodbye, and wait quietly for our eternal return.

sexta-feira, junho 07, 2013

Soneto Imperfeito #1

Se me vires chegar
com um tupperware cheio
de saudades
não esperes mais nada .

Trago-te os restos que a solidão deixou:
uma oferta de paz secreta
um beijo escondido na tua  face
deserta.

As saudades que cabem
nas horas que não sabem
passar sem nós.

A melancolia sorri
outro dia sem ti
outro inverno a sós.

sábado, junho 01, 2013

Aniversário de um dia qualquer

Em pé, na ponta do bar, era fácil perceber-lhe os invernos acumulados na barba, a solidão escondida da indiferença, num par de olhos desaprendidos de chorar.
Abandonado às palavras que me disse sem se entender

uma carteira tão velha que nem merece ter notas dentro(?)

Fingir esquecê-lo foi tão fácil como o mojito seguinte. Mas espero que tenha encontrado no fundo da cerveja um vislumbre de tudo aquilo em que de certeza já não se dá ao luxo de acreditar.

Ao atravessar a ponte percebo-me contagiado. Merda. Os invernos devem-lhe ter saltado da barba para o meu coração. De certeza. Foda-se. As nuvens também devem ter percebido, a chorar esta chuvinha de merda como se fossem lágrimas. Ao menos que seja isso: que no fim da cerveja mais barata encontre um bocadinho de sol que lhe aqueça a solidão; e, se lhe sobrar um pedaço, que o deixe à minha porta, em jeito de prenda. Em jeito de lanterna. Em jeito de perdão.