"O indivíduo em consulta sofre de múltipla personalidade, assim como de indícios de esquizofrenia a que a primeira condição está muito provavelmente associado. Recomenda-se a medicação abaixo proscrita, administrada duas vezes ao dia, e permanente vigilância. Sendo os parentes incapazes de a providenciar, o Estado acolherá o paciente numa das suas instituições de modo a que o mesmo possa continuar a sua vida sem pôr em risco a sua integridade física nem a dos que o rodeiam."
Este diagnóstico, a ter sido feito, privaria a Humanidade de um dos seus grandes génios. Seria uma vida de clausura e intoxicação médica a que levaria Fernando Pessoa se nascido no século XXI, no seio de uma família dita “preocupada” com a saúde dos seus rebentos. Não que o diagnóstico estivesse errado. A desfragmentação da sua individualidade, tenha sido só criação ou facto decorrente da sua vida propriamente dita, é um dado adquirido, acima de quaisquer dúvidas e tido como vértice essencial da genialidade do poeta. Agora pergunto-me: Como reagiria um desses pais tão preocupados quando a professora de Língua Portuguesa lhe dissesse que o seu filho não só assinava com nomes diferentes os diversos trabalhos encomendados como também o conteúdo e os pontos de vista dos mesmos eram claramente díspares? A consulta num psicólogo seria uma questão de semanas, e a primeira ida ao psiquiatra uma questão de meses. Em grande parte dos casos.
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