domingo, janeiro 25, 2009

La Palabra

Nació
la palabra en la sangre,
creció en el cuerpo oscuro, palpitando,
y voló con los labios y la boca.

Más lejos y más cerca
aún, aún venía
de padres muertos y de errantes razas,
de territorios que se hicieron piedra,
que se cansaron de sus pobres tribus,
porque cuando el dolor salió al camino
los pueblos anduvieron y llegaron
y nueva tierra y agua reunieron
para sembrar de nuevo su palabra.

Y así la herencia es ésta:
éste es el aire que nos comunica
con el hombre enterrado y con la aurora
de nuevos seres que aún no amanecieron.

Aún la atmósfera tiembla
con la primera palabra
elaborada
con pánico y gemido.
Salió
de las tinieblas
y hasta ahora no hay trueno
que truene aún con su ferretería
como aquella palabra,
la primera
palabra pronunciada:
tal vez sólo un susurro fue, una gota
y cae y cae aún su catarata.

Luego el sentido llena la palabra.
Quedó preñada y se llenó de vidas.
Todo fue nacimientos y sonidos:
la afirmación, la claridad, la fuerza,
la negación, la destrucción, la muerte;
el verbo asumió todos los poderes
y se fundió existencia con esencia
en la electricidad de su hermosura.

Palabra humana, sílaba, cadera
de larga luz y dura platería,
hereditaria copa que recibe
las comunicaciones de la sangre:
he aquí que el silencio fue integrado
por el total de la palabra humana
y no hablar es morir entre los seres:
se hace lenguaje hasta la cabellera,
habla la boca sin mover los labios:
los ojos de repente son palabras.

Yo tomo la palabra y la recorro
como si fuera sólo forma humana,
me embelesan sus líneas y navego
en cada resonancia del idioma:
pronuncio y soy y sin hablar me acerca
al fin de las palabras al silencio.

Bebo por la palabra levantando
una palabra o copa cristalina,
en ella bebo
el vino del idioma
o el agua interminable,
manantial maternal de las palabras,
y copa y agua y vino
originan mi canto
porque el verbo es orígen
y vierte vida: es sangre,
es la sangre que expresa su substancia
y está dispuesto así su desarrollo:
dan cristal al cristal, sangre a la sangre
y dan vida a la vida las palabras.

Pablo Neruda, Plenos Poderes

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Vamos todos festejar o Natal. Festas e família, prendas. Solidariedade. Distribuição de sorrisos. Vá. Eu torno-me um pintor de sorrisos, e todos também. Roupas caras e solidariedade barata. E egos cheios. Este natal sinto-me bem. Dei três peluches semi-novos (tenho quase a certeza que ainda nem fizeram 10 anos!). Dois pares de calças quase sem buracos, e três camisolas pouco largas. E ainda não começaram a cheirar a mofo praticamente. E ei-los. Egos e consciências mais tranquilas pelo Natal. E estamos lançados: Mais preparados que nunca para enfrentar mais um ano difícil, cheio de desafios e novidades, e já não precisamos de pensar nos outros, pelo menos naqueles que não têm nada. A família ainda leva uma prenda nos anos, mesmo a tia que me dá aquelas camisas à riscas. Mas que raio fiz eu para merecer camisas às riscas? Ainda bem que as dou também. Se calhar até consigo passar dois anos sem dar nada a ninguém sem me preocupar, abençoadas as camisas pirosas e consciências porreiras de acalmar. Mas este ano custou tanto ir aos bombeiros. Duas horas no trânsito, o guarda-chuva todo torto, os dois pés na na mesma poça, um para lá, outro para cá, e pareço o comandante num navio a afundar. Estas deviam dar para três anos. Mas pronto. Depois de um banho e a sopa começo a aquecer e fico tão quente cá dentro que me sinto a melhor pessoa do mundo. Que bom, dar sem esperar nada em troca. FODA-SE, ACABASTE DE ALUGAR A TUA CONSCIÊNCIA POR UM ANO INTEIRO. É ASSIM TÃO POUCO ÓBVIO, CARA DE CU EGOÍSTA?
E não me venham com merdas, que penso isto ou aquilo. Ou me digam que conhecem muitas pessoas que não são assim. Eu também conheço um ou dois canhotos, mas o que é certo é que a maioria da população é destra. Se eu trouxer o meu amigo cá a jantar porque tem um pé esquerdo do caralho, deixamos de ter falta de esquerdinos no futebol? Não me fodam.
E a melhor. Eu também sou destro. E também conforto a consciência pelo Natal para ver se ela aguenta o puto do ano todo sem me obrigar a pensar nas criancinhas em África e na história dos dedos a estalar e deles todos a morrer fome. Sou igual a vocês. Lamento. Eis a prova que faltava: Somos todos Filhos da Puta. Já agora, a minha vénia a William Burroughs por me ensinar a beleza da escrita correcta. Isto é, com as palavras todas, palavrões e isso. Dá jeito a um gajo com falta de jeito, poder dizer, por hipótese cara de cu em vez de uma explicação qualquer sobre a cara do sujeito ser sisuda e uma série de outras trampas para dar a sensação (e isto se a explicação for muito boa, e o leitor esforçadamente perspicaz) que, talvez, o sujeito seja efectivamente um cara de cu, e nada mais que isso, ou mais disfarçado, apenas um cara de cu em pleno apogeu da sua natureza babuína.