17.08.2001. A chuva aumentava de intensidade. Todos fugiam, o meu primo cansado de se refugiar debaixo de um plástico que de improviso servia de cúpula a um amor quase proibido, o resto da malta completamente encharcada e farta daquilo. E íamos mesmo desertar quando eles entraram em palco. Além do primeiro single OK, do you want something simple?, cujo refrão me ficou no ouvido como a todos os portugueses naquele verão, especialmente a outro primo meu que, na altura, com uns 8 anos, entoava em perfeito inglês, Ok, tchiqui tchiqui tchiqui tchiqui. Não me lembro como abrirarm o concerto, provavelmente, Fabric. Mas algum tempo depois veio Me, myself and I e eu entreguei-me naquela chuva e na noite ao som que me chegava directamente ao fundo da alma. Sem mais nem menos. O adolescente que confundia olhares com amor, simpatia com desejo, ali, completamente nu, encharcado, junto a uma centenas de fiéis que se recusavam a arredar pé. Eles esperaram por mim pacientemente, não sei se conscientes da importância daquele momento para mim. Depois lá me arrastaram dali para fora, privando-me de um dia mais tarde poder dizer que aguentei corajosamente até ao fim aquela chuva abençoada. Dois dias depois, pedi uma cópia de Film a um amigo e parti para o fim das férias, e foi ao som daquele cd que tudo o que se passou naquele verão e muito mais foi digerido. Como um bom vinho requer uma boa refeição, uma boa mágoa merece uma boa banda sonora.
Depois de Film, AM/FM, ouvido aos poucos, porque um cd duplo demora algum tempo a ser assimilado. Fabuloso. Um cd arriscado. Uma ousadia à Billy Corgan. Diferente, mas eficaz.
Tudo isto me surgiu depois da última actuação a que assisti da banda de Óbidos, que agora começa a ser do mundo também. Se o carácter intimista me seduziu nos primeiros tempos, a celebração em que se torna cada um dos seus concertos, a dança, a festa, deixam-me agora totalmente deslumbrado. Já não há limites para eles. Nuno Gonçalves não é só um compositor dotado, mas uma peça fundamental no espectáculo que sãos os The Gift em palco. Sónia continua doce, tão simpática que chega a ser difícil engolir tanta simpatia de uma só vez, não só nas palavras, mas também na voz. Os The Gift deixaram de ser uma banda. Os The Gift são um estado de alma.
1 comentário:
que bonito...
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