sexta-feira, agosto 18, 2006

Nunca irás entender a incondicionalidade do meu amor. É uma fatalidade que preciso de respeitar para sobreviver. Mas tu não entendes. Não percebes que o mundo deveria desabar numa vénia imensa sempre que passas. Que todos deveriam fechar os olhos e a boca quando tu falas. Não. Nunca vais perceber que o mundo gira apenas para te ver sorrir. Que um gesto teu nos pode salvar a todos. Que o silêncio se inquieta enquanto a tua gargalhada não chega. Que o nevoeiro só se desfaz em orvalhos carinhosos quando te vê passar.
Nunca iremos ouvir os coros celestes. Os anjos pousaram as harpas para te poderem ver dançar. As máquinas calaram-se, esperando timidamente o estalar das tuas palmas entusiasmadas.
Mas tu não sabes.
E assim, colhes flores no jardim sem realmente saberes que o mundo é todo teu.

domingo, agosto 13, 2006

Nocturnus

Foi a minha sombra que hoje passou pela estrada
curvada
desvanecendo em lampiões ocasionais
sob um luar de cartão quase postiço...
Houve hoje gargalhadas feriais
saltos em auroras nocturnas plenas de artificialidade...
tão belas...
e eu quase estive lá.
Começavas num trilo relâmpago desfalecendo subitamente numa cadência maldita até aos acordes trovejantes ao mar enraivecido. Plantado no precipício eras imponente e suicída. O mar extendia os dedos em ondas tenebrosas apenas para assistir novamente a mais uma fuga allegra triunfante só tua.
(Ao longe, um lobo em transe uiva em sol menor o apoio incondicional à tua redenção.)
Finalmente, o mar para, rendido. Sereno, ergues-te da negrura do teu banco e abandonas piano ao silêncio do tempo, mergulhando soberbo nas ondas.