quinta-feira, agosto 30, 2012

o diálogo da tempestade

Ela explicou-lhe o porquê da melancolia, e converteu-o de novo à solidão: uma solidão momentânea, um fio de orvalho gélido entornado no coração, a ameaçar durar para sempre.

Ele procurou-lhe no rosto uma pista para a felicidade, mas a chuva despejava nos olhares trémulos a condenação definitiva ao desalento estéril que cabe no fim de uma vida.

À sua volta, uma multidão de rostos mutilados de esperança celebrava o Carnaval fúnebre daquela união.

Quando se olharam de novo, no meio da tempestade, os seus braços dados abraçavam os relâmpagos incandescentes que teimavam esconder a todo custo a explosão derradeira que anuncia um novo final numa promessa descabida de esperança.

quarta-feira, agosto 22, 2012

o menino dos sete ofícios

Papá, quando for grande
quero ser jogador de futebol!
fintar as pessoas todas
e só para quando marcar um golo!

Mamã, quando eu crescer
vou ser bombeiro e apagar fogos sem parar!
vou ter um camião gigante, uma mangueira
e a terra vai deixar de queimar!

Avô, não sei se já te disse
mas o meu sonho é ser polícia!
vou prender os maus todos na prisão
e salvar as donzelas para o meu coração!

Avó, quando for crescido
quero ser um grande cantor
fazer músicas perfeitas
até todos saberem o meu nome de cor!

e quando eu aparecer nos filmes
e todas as actrizes aparecerem comigo,
vou ser um actor formidável
e o mundo inteiro vai ser meu amigo!

Mas se calhar o melhor é esperar
pois o meu destino é ser super-herói
ou então se os meu poderes não chegarem
posso sempre ser cowboy!

mas...
e se os sonhos não se realizam?
E se não posso ser nada afinal?
Se os livros são todos mentira
E a coca-cola inventou o natal?

Se calhar não tenho outro destino
que não seja a morte certa
e já que a esperança me falta
o melhor é ser poeta...