Não é difícil viver sem ti.
O tempo passa, e dançamos o desamor como amigos de tempos esquecidos, entre estações e anos que não aconteceram, por muito que os continuemos a lembrar.
Mas, em dias como este, em que o Outono brilha uma luz discreta sobre as árvores quase mortas, o teu sorriso escorrega-me para o coração, e tenho dificuldades em disfarçar as explosões que disparam a cada minuto em que decides incendiar o meu olhar com o teu.
Procuro o caminho para casa. Mas as ruas confudem-se com o teu corpo, e a noite e a combustão do alcoól tentam em vão explicar-me o nosso desencontro tão sincronizado como a dança dos desafogados à procura do fim do mar.
Em cada canto da cidade molhada pela desilusão, vislumbro um sinal transparente da nossa passagem, disfarçada pela certeza de um fim, vulgar como outro qualquer. Em cada estátua, em cada palácio, um quase beijo teu acenado do fundo da memória granítica do passado. Em cada ruína. Em cada passo a certeza de um futuro que nunca irá acontecer.
A noite cai; disfarça o Outono com frios e céus de Inverno. Devolvo-me a casa. Na lareira, a lenha arde inconformada, lado a lado com as memórias. Enconsto-me para o lado e, ao adormecer
(tenho quase a certeza)
esqueço-me de ti outra vez.
(tenho quase a certeza)
esqueço-me de ti outra vez.