paisagens / jamais o vento nos acordará. as sereias saltaram para fora do adolescente sonho. cessaram os cânticos aquáticos. receio olhar-te, quando dormimos juntos sinto o peso incomensurável de tua cabeça sobre o ombro. teu corpo afiado contra o meu. os dedos em teus cabelos descobriam noites intermináveis, ciúmes terríveis, a lembrança doutros corpos. insone, meu corpo abrigava o teu. vestia-te de anémonas envenenadas, matava-te para que não me fugisses. caminhávamos na miragem de algum naufrágio, algures pelas estradas dum continente que nos odiava. a nossa fortuna era estarmos vivos e podermos dormir à beira das auto-estradas e não desejarmos nada. o que possuíamos não era grande coisa mas fingíamos muito bem a felicidade. /
Al Berto - O MEDO