quarta-feira, março 20, 2013

segue-me

segue-me até às sombras no fundo da cidade onde bêbados mijam à chuva e celebram as núpcias sagradas do rio com os esgotos que espalham pelo inverno pesticida os restos ignóbeis de todos nós segue-me porque nestas ruas nem tudo está perdido ainda sobrevive no ar húmido da noite uma promessa secreta de homicídio uma janela dourada aberta para a salvação deixa-os e vem comigo para onda a humanidade acaba e não há senão sangue vomitado e loucos canibais à nossa espera de facas em riste prontos a oferecer  às ruas em forma de ritual as vísceras podres da nossa melancolia segue-me para longe de tudo o que é bom onde o sexo é indiferente a pessoas e lugares onde cadáveres seminus violam estátuas sagradas sob o olhar aprovador de todos os santos que tiveram o privilégio de cair segue-me até aqui onde a esperança não tem nome e por isso é infinita aqui onde todas as vidas mutiladas se congregam em adoração ao suicídio e a morte se esquece de se anunciar aqui nas sombras da minha casa aqui onde finalmente podes perceber que nada há em mim para além da solidão prometida e que comigo tudo o que te resta é um caixote cheio de esperanças partidas sonhos amputados promessas estéreis e momentos assombrados dos quais podes nunca mais recuperar.

terça-feira, março 19, 2013

de manhã, quando a tristeza acorda

a manhã acorda-nos lado a lado. num sobressalto antecipado a fuga dos teus braços dos meus é anunciada devagar, como um vestido preguiçoso que usamos para disfarçar a vontade de nós. a aurora instala-se. a certeza acorda-nos como um vulcão em chamas e separa os nossos lábios para longe da promessa do beijo infinito que escolhemos em silêncio evitar. os teus lábios fechados são a primavera que beija a manhã e, ao desenhar nos teus cabelos adormecidos o futuro, consigo ver ao longe o fim que a solidão não tem. 

resta-nos esperar. resta-nos fingir que acreditar num futuro ou num beijo não é a mais suicida de todas as ilusões.

restam-me os teus olhos abertos até ao epicentro da minha vontade inabalável de ti; os teus cabelos desenhados nas minhas mãos como o mapa prometido; as tuas mãos tão perto das minhas como do fim da solidão.

deixo-te longe. nesses braços que não são meus, programados convenientemente para a luz, condenados a fazer-te feliz. vejo-te com ele, daqui, onde as sombras se abraçam com carinho, a acreditar em futuros mesmo prontos para chegar.

respiro e, por segundos, disfarço de novo a vontade sanguinária que me viola cada vez que me lembro de ti:

- um beijo homicida talvez;
- um acto maior de egoísmo;
- um inferno garantido, em que a tua memória, plantada como uma semente contra a tristeza, evite eternamente o fim da nossa fogueira, imaginariamente nupcial.

sexta-feira, março 08, 2013

Morning at the MoMA, sketch #3

And still after centuries of death and night and mistress muses still we look endlessly for the perfect piece the unattainable one the erection vomit inducing master piece that shall make us masturbate and bleed from our eyes the mutilated harmony of the perfect dismembered woman body with her flawless coma inducing breasts and their heavenly tasting nipples staring at you within the frame of blood showering from the canvas where once her arms were before the mutilated reality came at you and left you no chance to cope no mechanism to absorb the unavoidable truth that you mayest make love to this painting and you shall die in it in eternal gut destroying love making puke inducing orgasm spraying bliss.

Morning at the MoMA, sketch #2

It is only when you deprive your eyes from colour and sink yourself in pure blackened dark that you will understand the meaning the secret melody the eye watering power of coloured light. Free yourself from colour and it shall be released upon your dark sensing immutable sense of seeing in an overwhelming announcement of life dark red and yellow as a blue green ever muting ever changing colour of life, which is none - and hence is all.

Morning at the MoMA, sketch #1

Darkness is not the absence of colour the presence of all colour that's what makes colour disappear it is but when you let the whole spectrum of light explode into your eyes then you let light become night at its darkest bright.