domingo, maio 20, 2012

A distância que nos separa
do último beijo
tem promessas escondidas pelo medo,
e um cheirinho doce a holocausto.

O milímetro que separa
os meus lábios dos teus
tem uma imensidão de memórias negras,
ácidas, a proibir a destruição
e o eclipse final da nossa união:

as tuas mãos nas minhas;
os desenhos de carinho assustado que continuamos a evitar. 
o teu cabelo no meu rosto, na redenção de um momento pronto a explodir.
as ideias fúnebres que envolvem os nossos olhares despedaçados.
as promessas de sangue e desilusão
cada vez que te deixo partir.
a certeza assassina do teu corpo
com outros corpos,
do teu olhar para sempre exilado
do meu.

Quando tudo acabar
sobrarão sonhos queimados,
corpos desfeitos e o medo
de que o fim possa nunca mais chegar.

quarta-feira, maio 16, 2012

#5

clear skies sing the promise of spring;
metal trash cans
hide the inevitable truth of the amputated teddy bear.

#4

Raindrops shower this morning's face;
jetlagged memories
carry dreams over to the other side of faith.

segunda-feira, maio 14, 2012

São os meus poemas
desenhados pelo teu rosto despido
espalhados pelo teu sorriso infinito
a terminar num beijo imaginado de saudade.

São os passos de dança dos teus cabelos
a preencher o espaço invisível que nos separa,
desenhados na nudez dos teus ombros descalços
a disfarçar a sedução da tua fuga à intimidade

É o brilho explosivo dos teus olhos
que me atrevessa até aquele lugar bem fundo
onde a esperança se esconde
e os sonhos têm contornos incertos de imortalidade.

É a tua pele
como a tentação suprema
como a promessa de uma paz sem pressas
como o sabor indisfarçável da felicidade.

São os teus lábios
a explicarem-me a violência da ternura
o suícidio voluntário da inocência
a colorir de certezas a cumplicidade.

E as tuas feridas graníticas, 
quase definitivas,
a afastar-me irremediavelmente do teu abraço,
e do teu cheiro impossível a eternidade.

Há, nos teus olhos, uma verdade incondicional.
(a promessa da fuga definitiva à solidão):
as esmeraldas escondidas no fundo do teu sorriso;
as ondas dos teus cabelos, infinitas,
definitivas como o fundo do mar;
o balançar do teu corpo, na sedução de quem
assume sem preconceito a possibilidade do fim do mundo,
mesmo quase a chegar;
a tua pele, estendida na minha
como o encontro de duas praias
no dia em que os oceanos se cansaram de existir.

O nosso destino, talvez: o fim
do mundo: cidades em chamas;
o holocausto vulcânico do nosso encontro final
a devolver o fim ao mundo
perdido há tempo demais.

Fantasia Verde (ou o Regresso à cidade Esmeralda)

As páginas que ligam Florença ao resto do mundo são verdes:
um verde que encerra em si um milhão de outras cores
que o resto do mundo ainda não soube inventar;
todas elas diferentes, todas elas verdes:

verde esperança e primavera;
verdes áridos a sugerir valas comuns para os sonhos dos condenados;
verdes cinza, espalhados sobre a terra como o nevoeiro definitivo que prepara a chegada da tempestade e o fim da esperança;
verdes sorriso, como desenhos de flor e saudade;
verdes musgo de casa abandonadas ao mistério original da decomposição;
verdes eléctricos, explosivos, a impor alegrias estridentes aos corpos amputados de esperança que se arrastam eternamente pela escuridão do asfalto e da noite;
verdes artificiais, pintados no meio dos outros, como tumores arquitectónicos, a atormentar as paisagens perfeitas demais para não serem destruídas;
verdes borboleta;
verde rio ou verde mar;
verde fogo, verde cinza: verde saudade;

Desfilam todos vestidos a rigor:
uma procissão interminável de cores
todas elas verdes.
E, por detrás de todas elas,
no fundo de todas as cores,
no fundo de todos os verdes,
o verde atómico dos teus olhos apontados aos meus
a explicar-me todas as cores,
a decifrar esta esperança irredutível
que continuo sem saber explicar.


Florença está mesmo a chegar. Um último olhar descobre o arco íris verde que antecede a cidade. E, à chegada, a sucessão de contentores onde os sonhos são enterrados, na escuridão, a salvo da esperança verde que ameaça destruir a qualquer momento todos os nossos projectos megalómanos de solidão.

Desastre Perfeito


Somos o desastre perfeito;
Coleccionamos  momentos impossíveis, e sonhos em que o tempo e o espaço se dobram numa vénia violenta de despedidas que fingimos nunca terem acontecido.
Lá em baixo a cidade disfarça-se de pomar, e os nossos lábios selam com esperança um momento que está sempre prestes a acabar.
Os nossos sorrisos brilham sincronizados, espelhos de felicidades desesperadas, a segurar na ponta dos dedos bocadinhos de esperança que se esticam até que o tempo se gaste, e a partida se imponha em desenhos de névoa e ameaças de saudade.