sábado, novembro 03, 2007

Diluições

Nunca o tinha visto por cá…

Pois.

É de cá.

Moro no quarto andar.

Há muito?

Há uns anos.

Nunca o tinha visto cá.

Pois.

E o que traz hoje cá?

Estou praqui a ver se morro.


Traga-me 6 shots de vodka por favor.
Bebe-os de seguida.

Foda-se.
O barman olha-o curioso.

Merda. Já percebo porque é que os polacos fazem isto na maior. Devem ser tristes de nascença. Filhos da puta.

Enquanto sobe as escadas deixa-o o sangue diluído embatê-lo contra as paredes, sem reacção, sem dor. Estende-se contra a porta à espera da vontade de abrir a porta.

Acorda e sabe que devia ter ficado a dormir para sempre. Água. Que peso. Quer chegar à mesa e tomar os comprimidos todos de uma vez até a cabeça voltar ao peso habitual. E água. Muita água. Foda-se. Que pena não ter morrido. Ou não ter bebido. De qualquer modo estaria melhor. Merda. Tenho de deixar de beber outra vez.

Uma sexta-feira qualquer

Não sei porque te escrevo menos. Porque acho que tu tens de saber tudo, mas não tens. Vergonha? Nunca percebo bem como funciono cá dentro. Vergonha de te dizer que não mudo os lençóis para dormir na ilusão do teu cheiro. Que tento não pensar em ti porque quando o faço o meu coração quer rebentar. E a minha vida é isto. Autocarros de sonâmbulos feios. Pedintes sem infortúnio de grandeza suficiente para serem ajudados. Rostos todos iguais, como rebanhos para o matadouro. A marchar a passo ritmado para a guilhotina. Mais um bilhete para me tentar esquecer. Viagens infinitas, hoje ainda mais. O sono, os livros, a fugirem de mim como da morte. Vejo o Douro e já nem forças me sobram para sorrir.